domingo, 5 de junho de 2011

Trânsito vira praga do cotidiano natalense

O Poti mapeou os principais problemas de locomoção de Natal e mostra como eles infernizam a vida da população
Sérgio Henrique Santos // sergiohenrique.rn@dabr.com.br



R eza a tradição que dez pragas assolaram o Antigo Egito: águas que se transformaram em sangue, rãs por toda parte, piolhos, moscas, peste nos animais, úlceras nos homens e animais, chuva de pedras e gafanhotos, trevas por três dias e morte do primogênito do Deus Faraó. Gafanhotos à parte, Natal também vive as suas pragas em uma área específica: a mobilidade urbana. Um problema que diz respeito ao enfrentamento diário por que passam os moradores da capital potiguar perante a carência de infraestrutura adequada para necessidades básicas como ir e vir.


Crescimento da frota e falta de investimentos são algumas das causas da crise
Tudo parece reflexo do crescimento acelerado da cidade, quase sem planejamento, que desemboca numa via crúcis permanente dos natalenses. Trânsito congestionado, imprudência, malha viária com buracos e ruas alagadas, falta de estacionamento, calçadas obstruídas, transporte coletivo ineficiente e falta de investimentos. Eis as sete pragas de quem mora, trabalha ou frequenta a capital do Rio Grande do Norte diariamente.

O Poti/Diário de Natal listou e explica os principais problemas de mobilidade em Natal. Contamos com a ajuda de vários colaboradores. Ouvimos órgãos públicos e, principalmente, a população, além de um especialista, que coordena um grupo de estudos sobre mobilidade de Natal. Escolhemos sete natalenses, de bairros e idades diferentes, com ocupações também diferentes, relacionadas com a praga a que são obrigados a enfrentar. Todos têm relatos sobre a rotina de uma matemática diretamente proporcional: a quantidade de afazeres no cotidiano é tão grande quanto os inúmeros problemas que têm para contar.

O conceito de imprudência inclui o desrespeito às normas de trânsito e entre condutores. "Quando você é imprudente, você assume o risco de fazer uma conduta errada que pode resultar num acidente. E esse é um conjunto de fatores que desemboca no número alto de acidentes", destaca o inspetor Everaldo Morais, da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Desde que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foi aprovado, em 1997, as regras se tornaram mais rígidas: mudança de faixa sem aviso prévio, ultrapassagem indevida, falta de distância de segurança, colisões traseiras, excesso de velocidade ou velocidade incompatível com o local onde está trafegando, entre outras.

"Ainda assim, o que observamos é o menosprezo a essas normas. Qualquer cidadão que observe o trânsito por pelo menos 10 minutos vai observar várias infrações". O fator complicador, no caso da imprudência, é a chuva. "Em condições climáticas adversas, muitos ao invés de diminuir a velocidade, aumentam, usam a contramão em perímetro urbano. Enfim, a conduta do motorista ao volante é muito importante".

Existem em Natal 160 pontos de alagamentos, grande parte em locais onde há drenagem e a água demora a escoar.
Jair Jefferson, inspetor

Os buracos de Natal se concentram, em sua maioria, nos asfaltos com mais de 20 anos. A avenida Bernardo Vieira é um exemplo de via que se desgasta por causa do grande volume de carros que trafega diariamente. Por lá trafegam veículos pesados e a frenagem e arrancada nas paradas criam atritos que são ruins para a vida útil do asfalto. "As vias que não receberam recapeamento recentemente estão se desgastando tanto pelas intempéries quanto pelo tráfego contínuo e pesado", afirmou Caio Pascoal, secretário-adjunto de operações da Semopi, que cuida das obras públicas e infraestrutura da capital.

De forma provisória, há três semanas foi iniciada uma operação tapa-buracos em Natal. São entre 40 e 50 toneladas por mês de Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), aplicado com 160 graus, especialmente onde já é visível o paralelo da via (paralelepípedo). Segundo o secretário, a recuperação de vias não é algo difícil de ser feito, "não é uma coisa do outro mundo", mas um recapeamento mais completo requer investimentos maiores. Para isso Natal pretende iniciar, em agosto, um convênio com o Ministério das Cidades. Serão R$ 10,5 milhões em investimentos.

Alagamentos

No período de inverno o número de buracos aumenta consideravelmente, ocasionando outro tipo de problema: os alagamentos. Em geral isso é agravado pelo aumento da impermeabilização do solo, ocasionado pela construção de prédios, casas e pontos comerciais. O sistema fica, literalmente, afogado. "Ao invés de ser absolvidas nos terrenos, aumenta a quantidade de água a ser captada pelo sistema de drenagem. São mais de 50 lagoas de captação e não dão conta", revela Caio Pascoal.
Antônio dos Santos, perito

A falta de estacionamento, que há alguns anos era problema localizado em bairros como Cidade Alta e Ribeira, hoje se alastrou. A dificuldade tem duas razões: a média de crescimento anual da frota de Natal de 11.981, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), faz com que a capital já tenha 314.547 veículos circulando. Como o espaço físico do município não aumenta na mesma proporção, a tendência é que se criem gargalos, com a falta de lugar para deixar o veículo.

Para Haroldo Maia, secretário-adjunto de trânsito da capital, os polos geradores de tráfego como shopping e instituições de ensino, precisam ter soluções diferentes de obras que provoquem intervenções urbanas. "Obra de engenharia nenhuma dá solução porque o espaço físico é constante. Tudo que for feito será apenas um paliativo, porque com o tempo o problema voltará, especialmente pelo aumento da frota", argumentou.

Um dos paliativos criados foi o projeto Via Livre, implementado em cinco avenidas da capital. No entanto, o que impede oavanço do Via Livre para outros pontos é a falta de pessoal para fiscalizar os infratores que estacionarem nas faixas amarelas. "Temos apenas 80 fiscais de trânsito e 150 de transporte, que trabalham por escala. Sem fiscalização, os motoristas não respeitam". Natal está longe da meta recomendada pelo Código de Trânsito Brasileiro: um agente para cada mil veículos.
João Sobrinho, eletricista

Infrações detrânsito

2011:

30.209 motoristas

2010:

90.055 motoristas

2009:

131.654 motoristas

Fonte: Semob

Estacionamento emcalçadas

2011: 742 multas

2010: 2.464 multas

2009:2.444 multas

Fonte: Semob

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