quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sinfônica sem harmonia


Músicos da Orquestra Sinfônica reclamam melhores salários e condições de trabalho para volta das atividades
Sérgio Vilar // sergiovilar.rn@dabr.com.br

Um estado sem erudição. Sem o clássico da música. Sem a orquestra mãe, regente dos sons e melodias dominantes. A lembrança das apresentações da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte surgem acompanhadas da emoção, do deslumbramento sonoro. E de uma triste constatação: lembram também o passado. Há mais de um ano o potiguar está órfão de novos concertos oficiais. E antes que as críticas recaiam nos músicos, é preciso entender alguns números e contextos.


A OSRN aderiu à greve dos funcionários da Fundação José Augusto Foto:ASCOM/FJA/divulgação/D.A Press
De um lado está a cobrança governamental para volta dos concertos. Do outro, a cobrança dos músicos por condições de trabalho. O governo reclama ter gasto R$ 3,2 milhões para manter a Orquestra no período de um ano sem apresentações. Os músicos reivindicam o pagamento da 2ª parcela do Plano de Cargos e Salários conquistados por lei. O executivo estadual acha o salário justo. Os artistas acham pouco a média salarial entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil (com gratificação incorporada).

"Se fosse muito os músicos daqui permaneceriam e não procurariam trabalho fora do estado como tem acontecido nos últimos anos", justifica o contrabaixista da OSRN e presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais do RN, Paulo Sarkis. Um músico com cinco anos de trabalho recebe salário de R$ 1.561,34, mais R$ 600 para manutenção de seus próprios instrumentos. O total líquido alcança a cifra de R$ 1.968,74. Músicos com mais de 20 anos de serviço somam cerca de R$ 2,5 mil.

Paulo Sarkis detalha que o spalla - uma espécie de chefe dos naipes dos violinos (instrumentos mais nobre da orquestra) - recebe o salário mais alto, de pouco mais de R$ 3 mil, após 30 anos de trabalho na orquestra. "Tenho 22 anos na orquestra e recebo R$ 2,5 mil, incluindo os R$ 600 para manutenção do meu instrumento e vantagens de quinquênio e gratificações incorporadas. Com o cumprimento do Plano, subirá para cerca de R$ 4 mil"

Apenas o instrumento de Sarkis (um contrabaixo acústico) custou 10 mil dólares. Os R$ 600 de manutenção são praticamente diluídos. O cordoamento custa aproximadamente R$ 700, e precisa trocar a cada três meses. Afora manutenção do arco, crina, breu, peças para transporte# "Instrumento é igual a carro: precisa de manutenção constante. E às vezes há uma batida mais forte. Mês passado precisei reforçar o tampo, que custou R$ 800".

Os salários iniciais da Orquestra Sinfônica de São Paulo são de R$ 9 mil. Em Goiás, de R$ 6,6 mil. Em busca de melhores salários, músicos debandaram e a Orquestra Sinfônica ficou desfalcada de 18 músicos durante praticamente um ano. Recentemente a secretária extraordinária de Cultura, Isaura Rosado, cobriu a falta mediante bolsas oferecidas a músicos, em convênio firmado com o Sesc. Segundo Isaura, ainda será feito seleção para os músicos. Mas a verba já foi paga.

"Reconhecemos o mérito da FJA. Ela criou um cargo comissionado ao spalla da Orquestra e ele ajudou a secretária nesse processo", comentou Sarkis. Ele também legitimou o "esforço mínimo" da atual gestão em suprir algumas demandas. "Mas ainda estão muito aquém. Só porque decidimosvoltar aos ensaios a secretária acha que está tudo bem. Falta um computador, copiadora, cadeiras para substituir as rasgadas, uniforme, refrigeração adequada à sala de ensaios (no TAM) e os salários atrasados".

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