Para marcar este dia 12 de junho, O Poti/Diário de Natal conta a história de um amor à moda antiga
Fernanda Zauli // fernandazauli.rn@dabr.com.br
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E les são do tempo do namoro no portão, quando o flerte estava em alta e o olho no olho tinha mais valor. Fazem parte da geração que curtiu Roberto Carlos, a Jovem Guarda, Beattles, Cely Campelo, Renato e seus Blues Caps, Ângela Maria# E foi embalada por música e poesia que começou esta história de amor. Era 1962 quando se olharam pela primeira vez. Ela, uma menina de 14 anos de idade. Ele, um jovem rapaz de 21. Enquanto Luiz Célio jogava vôlei, Maria das Graças o observava, encantada. Foi então que ele se aproximou, tirou um anel do dedo e pediu que ela segurasse. Seria aquele gesto um pedido de namoro? Percebendo o "clima" entre os dois, uma amiga em comum fez o papel de cupido: dizia a Célio que Graça estava interessada nele, e a Graça que Célio estava interessado nela. Pronto. A flecha havia sido lançada.
Mas, como nos filmes, aquele amor era impossível: Célio tinha uma namorada. Uma mulher da mesma idade dele, mais madura que Graça, já empregada como diretorade uma escola na cidade. Graça achou que não teria chance. Enganou-se. Ele terminou o namoro e passou a visitar a casa de Graça, em Ceará-Mirim, com certa frequência. Mas, claro, os "encontros" aconteciam rodeados de amigos e familiares. Até que um dia os dois ficaram sozinhos. Ali, na rua, em frente à casa de Graça. O coração dela batia forte, a mão suava# Até que seu pai apareceu. "O que faz Graça ali conversando com aquele rapaz? Diga a ela que entre agora. E eu não quero saber desse namoro", decretou Seu Cleto Formiga Brandão, o pai.
Hino
Graça sofreu, chorou, e fez da música de Maysa Matarazzo o hino daquele momento de sua vida: "Proibiram que eu te amasse. Proibiram que eu te visse. Proibiram que eu saísse. E perguntasse a alguém por ti". Mas Dona Margarida, mãe de Graça, "muito sabida", queria casar a filha e admitiu o namoro sem que o patriarca da família soubesse. E o namoro começou. Célio e Graça iam ao cinema, com Dona Margarida de lado. Iam à missa, com Dona Margarida de lado. Aos passeios para Muriú? Sim, Dona Margarida os acompanhava. E assim o namoro seguiu por alguns meses. Até que um dia Célio se encheu de coragem e foi até o portão da casa de Graça. Lá estavam eles, conversando por meio às grades. Ele do lado de fora, ela do lado de dentro. Mas o pai de Graça apareceu mais uma vez. E mais uma vez foi contra o namoro. "Quer dizer que Graça ainda está com esse rapaz? Diga a ela que suba agora. Essa menina tem 14 anos, é uma criança. Se eu pegá-la de novo com essa rapaz vou dar-lhe uma surra".
![]() Mesmo hoje, Célio ainda a surpreende Graça com flores e gestos de carinho em datas consideradas especiais pelo casal Foto:Eduardo Maia/DN/D.A Press |
Mas sua mãe mais uma vez "acobertou" o namoro escondido. Com o tempo foram chegando as informações sobre Célio: era um bom rapaz, de uma família digna, natural de Mossoró, mas estudava em Natal. E Seu Cleto foise tranquilizando, não falou nada, mas sinalizou que aceitava o namoro. Sete meses depois de namorar por entre as grades daquele portão, eis que acontece o tão esperado primeiro beijo. Sim, sete meses depois! O coração de Graça disparou, bateu forte como nunca antes havia acontecido. Emocionada, envergonhada, ela correu, subiu as escadas em disparada e deixou Célio sem entender o que se passava, sozinho no portão. Quando chegou na sala, dona Margarida já a esperava. Graça não sabia, mas sua mãe observava tudo, todos os dias, lá do alto da varanda da casa. "Como você pôde fazer isso, minha filha? Com apenas sete meses de namoro se deixar ser beijada! Nem noiva você é. Vou contar ao seu pai", anunciou.
Confusão
A confusão estava armada. Mas durante a noite, já em sua cama, Graça só pensava naquele beijo, como se os lábios de Célio ainda estivessem tocando os seus. Sonhou acordada por uma noite inteira na companhia de Roberto Carlos: "Não adianta nem tentar me esquecer. Durante muito tempo em sua vida eu vou viver. Detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes prá esquecer, e a toda hora vão estar presentes. Você vai ver".
No dia seguinte, esse era o assunto da casa. Só se falava do bendito beijo. Quando encontrou Célio, Graça foi logo lhe contando da confusão que se tornara sua vida depois daquele doce beijo. E dessa vez foi Célio quem decretou: "Vamos noivar". Ele providenciou um telegrama convocando seu pai, Luiz Gonzaga Soares, que morava em Mossoró, para estar presente no noivado. Entre as irmãs de Graça, o assunto era: "vai noivar para poder beijar". E chegou o dia do noivado. Todos a postos na sala, menos Seu Cleto. E Graça pensou: "Papai não vem. Ele não vai dar a minha mão". Mas ele foi e o noivado aconteceu. "Mas só pode casar depois que acabar o ginásio". Graça era, de fato, uma menina. E seguiu a orientação de seu pai.
O namoro no portão continuou, o cinema, o sorvete na praça e as missas também - sempre em companhia de Dona Margarida, claro. Até que o grande dia chegou.
Em 25 de dezembrode 1964 Luiz Célio e Maria das Graças se casaram. O fruto desse amor são quatro filhos, sete netos, e quarenta e seis anos de cumplicidade e companheirismo. Ainda hoje os olhos brilham quando eles contam as histórias da época do namoro. E a música que ficou por toda a vida foi Love Is A Many Splendored Thing, ou O Amor É Algo Esplendoroso.
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