fotos: alex régis
Ambulatório da unidade de saúde de Cidade Satélite está interditado à espera de reforma por causa dos problemas estruturais
Apesar da mudança de prédio, os atendimentos de urgência e emergência foram mantidos numa parte do complexo cujo teto não corria o risco de desabar. Porém, as condições estruturais dos locais nos quais os procedimentos são realizados despertam questionamentos. 
A começar pela “sala” de nebulização, que foi instalada num vão entre as enfermarias e os consultórios médicos, que não oferece nenhum conforto aos pacientes que precisam fazer o procedimento sentados em bancos de alvenaria. Os pontos para os aparelhos de nebulização não foram instalados e tudo funciona à base do improviso com um tubo de oxigênio preso a correntes para não cair.
Nas enfermarias, compostas por três camas cada, os ventiladores não funcionam e estão enferrujados. Os pontos de energia estão com infiltração e não há tubos de oxigênio, apenas um cilindro para atender as três camas. Na sala de medicação rápida, uma tomada está exposta e o risco de um choque elétrico não é descartado pelos funcionários do posto, que preferem não ser identificados temendo represália. Na cozinha, os alimentos e frutas consumidos pelos funcionários são armazenados em armários com ferrugem, podendo ser contaminados por bactérias. Devido à interdição do refeitório pela direção da Unidade, os funcionários tem que colocar a comida em quentinhas e se dirigir para uma sala no antigo prédio que foi improvisada para servir como local para refeições.
Procurada para responder os motivos pelos quais o posto de saúde se encontra naquela situação, a informação repassada pelo administrador da Unidade, Arlindo Almeida, foi de que a diretora Josineide Barbosa havia se ausentado para ir ao médico. Almeida ressaltou, entretanto, que tudo depende da Secretaria Municipal de Saúde que é consciente da situação do posto.
“A Secretaria informa que estão aguardando firmar um contrato com um empresa de engenharia. Todas as nossas solicitações são enviadas através de ofícios e documentos, eles são conscientes”. O secretário municipal de Saúde, Thiago Trindade, afirmou que as obras de recuperação da Unidade começarão assim que as demais obras em andamento forem concluídas. Porém, não informou datas ou definiu um cronograma.
Médicos são insuficientes para atender demanda do posto
Apesar da infraestrutura adequada para realizar exames de rotina e consultas, o ambulatório que funciona num prédio alugado pela prefeitura funciona aquém do esperado. O ar condicionado dos dois consultórios médicos estavam ligados na manhã de ontem, o que, teoricamente, apontava a presença de algum médico atendendo. Porém, as salas estavam vazias. Dos quatro clínicos que atendiam no ambulatório, restou somente um depois que o contrato do outros três venceu e não foi renovado.
Além de clínicos gerais faltam pediatras, dentistas, medicamentos e produtos de uso e consumo. O secretário de saúde afirmou desconhecer a ausência dos médicos no posto, pois, segundo ele, alguns haviam sido remanejados para a unidade com o objetivo de fechar a escala. “Falta tudo. Pra pegar uma ficha eu preciso chegar às 4h da manhã e muitas vezes não consigo. Não tem pediatra, só tem um clínico na escala”, desabafa a dona de casa Ediene Soares.
A falta de remédios e produtos utilizados pelos médicos e enfermeiros é comum em diversos postos de saúde e hospitais gerenciados pela prefeitura. Ainda em setembro do ano passado, Thiago Trindade afirmou que todos os problemas de abastecimento das unidades seriam sanados com a instalação do Programa Farmácia da Gente em outubro do mesmo ano. Até hoje, meses depois, o programa não foi implementado.
“Nós não implantamos o Programa pois os custos eram inviáveis para o município. Mas nós estamos trabalhando num projeto de logística integrada além da entrega dos medicamentos de uso contínuo aos pacientes em suas próprias residências”, ressaltou Trindade. Para garantir a oferta dos medicamentos nos centros de distribuição, postos de saúde e hospitais municipais, o Ministério Público fez recomendações e assinou acordos, os quais são constantemente descumpridos pelo poder municipal. No dia 1º de fevereiro, a promotora da Saúde, Elaine Cardoso, enviou uma recomendação à SMS antes de entrar com uma execução sobre o descumprimento da oferta de medicamentos aos portadores de diabetes.
Ontem, a mesma promotora abriu uma Ação Civil Pública contra a Secretaria Municipal de Saúde solicitando providências imediatas quando à falta de medicamentos e insumos. De acordo com a análise do Ministério Público, o problema deveria ter sido resolvido pois em setembro do ano passado, a SMS assegurou que um processo de compras estava em andamento e garantiria o abastecimento por pelo menos três meses.
“Se fato este abastecimento mínimo não chegou a acontecer, conforme se percebe das listas de estoques zerados e também dos documentos de rastreamento de entrada de lotes, que evidenciam as datas das últimas entradas de alguns medicamentos, ficou flagrantemente evidenciada a necessidade de o Ministério Público ajuizar a presente Ação, a fim de que seja garantido aos usuários do SUS no Município de Natal o fornecimento de medicamentos e insumos”, ressalta Elaine Cardoso.
Thiago Trindade afirma que todas as informações sobre a falta de medicamentos no município são compartilhadas com a promotora. “Eles são conscientes das nossas dificuldades”. Trindade não afirmou, contudo, o que será feito para sanar as necessidades de abastecimento dos postos de saúde municipais conforme solicita a promotora Elaine Cardoso.
Hospital aguarda orçamento de 2011
A falta de insumos básicos para atendimento de pacientes no Hospital José Pedro Bezerra, no conjunto Santa Catarina, é justificado, principalmente, pelo fato de que o orçamento de 2011 “ainda não foi aberto”. É o que diz o chefe do Departamento Administrativo daquela unidade, médico José Carlos Leão da Silva. “Os processos de compra estão prontos, falta abrir o orçamento para deflagração das licitações”.
Carlos Leão confirmou que falta algodão para atendimento de recém-nascidos - “mas o serviço não pára, usa-se gazes no lugar” -, como também seringas do tipo de 1 cc, que é usada em bebês devido à sua espessura mínima e também utilizadas por pacientes com diabetes, que necessitam tomar insulina. O diretor do hospital confirmou que os insumos, ainda em uso, são aqueles adquiridos para compor os estoques de novembro e dezembro do ano passado. “O orçamento precisa ser aberto com urgência”, reforçou ele.
Segundo Leão, o Hospital José Pedro Bezerra, só no pronto-socorro, faz uma média de 400 atendimentos por dia. Mas, acrescentou ele, também atende pacientes na área de clínica geral, além de ser unidade de referência em obstetrícia neo-natal, “a qual é a maior da região Nordeste”.
Leão disse que existem dez UTIs neo-natal no Hospital José Pedro Bezerra, além das 17 semi-intensivas de que dispõe. Ele afirma que como se trata de uma unidade de urgência e de emergência e ainda “como somos uma unidade de alto risco, bebês em UTIs aqui é uma rotina”, ressalvou ele, negando o fato de que um recém-nascido prematuramente, tenha corrido risco de vida por falta de oxigênio ou leito de UTI.
Primeiro, ele colocou que não havia falta de cilindro de oxigênio porque o hospital trabalha com um sistema em rede – de oxigênio, ar comprimido e de vácuo - , que é regularmente abastecido por uma empresa do ramo. Em segundo lugar, Leão admitiu que não havia UTI no momento do nascimento do bebê prematuro, um gêmeo, porque todos os dez leitos disponíveis estavam ocupados, mas todos os procedimentos necessários para resguardar a vida do recém-nascido foram tomados ainda na sala de obstetrícia pelos dois profissionais que estavam de plantão no momento do parto.
Ele disse que a vida do bebê foi preservada “não pela mobilização externa” de uma rede social na internet, mas pela mobilização interna “dos profissionais que estavam de plantão e, em primeiro lugar Deus, porque cremos em Deus”. Durante os plantões da obstetrícia no Hospital José Pedro Bezerra, segundo ele, atuam quatro médicos obstetras, três médicos de neo-natal e dois enfermeiros, afora os outros profissionais. Já no centro cirúrgico, destinados a parturientes que farão cesariana, atuam no plantão três cirurgiões, dois anestesistas e outros profissionais.
A TRIBUNA DO NORTE tentou falar, na tarde de ontem, com Daniele Cristina da Silva, mãe de um bebê que nasceu com 26 semanas de gestação e apenas 1,100 gramas, mas ela mandou informar por uma funcionária do hospital que não queria “mais falar com a imprensa”.
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