quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Governo está confiante na aprovação


Brasília (AE) - Numa ofensiva para garantir a aprovação do salário mínimo de R$ 545 hoje na Câmara o governo mapeou os nomes dos dissidentes na base, cujas indicações políticas para cargos no segundo e terceiro escalões e nas estatais federais serão barradas, e também avisou ao PDT que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, poderá perder o cargo se o partido, que integra a coalizão governista, mantiver a disposição de votar a favor de R$ 560.

joão batistaO ministro Guido Mantega, da Fazenda, esteve na Câmara para explicar as razões de o governo ter fixado o valor em R$ 545O ministro Guido Mantega, da Fazenda, esteve na Câmara para explicar as razões de o governo ter fixado o valor em R$ 545
Os líderes aliados estão confiantes na vitória dos R$ 545 com cerca de 300 votos e esperam uma dissidência de 76 votos na base aliada, segundo cruzamento realizado ontem. Na avaliação tanto de governistas quanto de oposicionistas, o mínimo de R$ 560 deverá contar com o apoio de 150 a 180 deputados. “A situação é confortável”, disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

A presidenta Dilma Rousseff decidiu jogar pesado com os aliados para evitar um eventual processo de rebelião na base a favor do mínimo de R$ 560. O temor era que esse valor acabasse “contaminando” os governistas.

Vaccarezza reuniu os líderes num almoço na casa do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), para baixar a ordem unida na votação de hoje: o governo manterá os R$ 545 até o fim, sem dar um real sequer a mais.

“O governo não pode fraquejar nem dar sinais que pode dar mais que os R$ 545. Se abrir a porteira, não tem como segurar: é o estouro da boiada e vai todo mundo junto para os R$ 560”, resumiu o deputado Hugo Leal (PSC-RJ).

A base está preparada para fazer cobranças em troca da fidelidade ao Palácio do Planalto. Ontem, peemedebistas alardeavam que esperam apenas a votação do mínimo para cobrar de Dilma a demissão de Lupi.

“Se ela não demitir, ela não poderá cobrar mais nada de ninguém”, disse um peemedebista. O partido vai usar a votação de hoje como um argumento para conquistar novas nomeações no governo Dilma.

“Se o PDT votar pelos R$ 560, o Lupi vai voltar a vender jornal”, brincou o deputado Sílvio Costa (PTB-PE). Antes de entrar na política, Lupi era dono de banca de jornal no Rio de Janeiro. Outro pedetista que corre o risco de ficar fora do governo é o ex-senador Osmar Dias (PR), que pleiteia um cargo numa estatal de energia (Itaipu ou Eletrosul).

O PDT é o único partido da base que promete votar unido contra o valor do governo. O deputado Paulinho Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, sentiu a pressão do Planalto e ficou sozinho na defesa do valor de R$ 580.

Este era o valor inicial proposto por Paulinho e pelas centrais. “Já peleguei. Estou agora defendendo os R$ 560”, disse.

A estratégia dele é tentar fortalecer esse valor que conta com o apoio do DEM, do PDT e do PV.

Para tentar cooptar o voto de Paulinho e o apoio da Força Sindical, o ministro da secretaria geral da Presidência, Gilberto Carvalho, propôs a aprovação do mínimo de R$ 545 em troca da correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física A própria presidenta Dilma Rousseff também se reuniu com Lupi para exigir a fidelidade da bancada de 27 deputados na Câmara.

Os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, foram ontem à Câmara dar explicações sobre os motivos que levaram o governo a fixar o mínimo em R$ 545. Pela manhã, o secretário Executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, participou de debates com as bancadas, incluindo os partidos de oposição.

No PSDB, a defesa do mínimo de R$ 600 foi feita pelo economista Geraldo Biasoto Júnior. Na tribuna, ele deu detalhes de como o partido chegou a esse valor, defendido pelo candidato tucano derrotado à Presidência da República José Serra.

O PSDB, o DEM e o PPS não esperam defecções a favor do governo hoje. As eventuais dissidências devem ser computadas nas ausências dos deputados e não nos votos a favor do governo.

Mínimo de R$ 600 custaria R$ 16,5 bi

Brasília (AE) - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que o governo não tem condições do ponto de vista fiscal de reajustar o valor do salário mínimo acima dos R$ 545 propostos. Segundo ele, o governo não pode aumentar o nível das despesas. Ele lembrou que a folha de pagamento dos aposentados cresce R$ 300 milhões para cada R$ 1 de reajuste do mínimo.

Ele disse que se o salário mínimo chegasse a R$ 600, o impacto seria de R$ 16,5 bilhões no Orçamento de 2011, além do custo que já terá para reajustar de R$ 510 para R$ 545. Caso o mínimo fosse para R$ 580, o custo seria de R$ 10,5 bilhões este ano.

“Temos uma limitação de ordem orçamentária”, disse o ministro no plenário da Câmara. Ele disse que o governo também tem uma limitação do ponto de vista da confiança. Mantega disse que a sociedade espera que o governo cumpra os acordos feitos.

Ele lembrou que já está sendo colocado em dúvida a capacidade do governo de realizar o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento. “Nós vamos cumprir”, garantiu. No entanto, segundo ele, se o governo concordar com o reajuste do mínimo acima de R$ 545, será colocada em dúvida a capacidade de o governo alcançar os resultados fiscais esperados. Mantega disse que o compromisso do governo é com todos os trabalhadores e não somente com aqueles que ganham salário mínimo.

O ministro da Fazenda afirmou que o ex-presidente Lula praticou uma política de valorização do mínimo que não foi isolada, mas se deu em um contexto de valorização dos salário de todos os trabalhadores.

Mantega lembrou que também houve uma política de geração de emprego no governo Lula. O ministro afirmou que a política econômica adotada aumentou a taxa de crescimento do País, com geração de emprego. “O crescimento se traduziu num forte aumento de emprego no País que beneficiou os trabalhadores”, disse.

Segundo ele, as medidas anticíclicas adotadas durante a crise incitaram os setores que mais empregam. Em 2009, ano de crise, enquanto outros países estavam despedindo trabalhadores, como nos EUA e na Europa, o Brasil, destacou o ministro, aumentou o nível de emprego em 1,6 milhão.

Em 2010, foram gerados 2,525 milhões de empregos. “Isso levou o País a um nível de desemprego muito baixo”, afirmou Mantega. Segundo ele, o desemprego é o mais baixo da história. Para ele, este é o cenário mais favorável porque é quando o empregador vai atrás do empregado e oferece salários mais altos.

Ele afirmou também que o governo do presidente Lula aumentou os gastos sociais, que elevou o poder aquisitivo da população. “Nós também aumentamos os gastos com investimentos”, disse. Mantega afirmou que a transferência de renda aumentou de 6,8% para 8,8% do PIB em 2010, mesmo com o PIB crescendo.

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